Ao menos 37 pessoas morreram e centenas foram detidas em protestos em Uganda devido à prisão do cantor e candidato presidencial, Bobi Wine, em meio à campanha para eleição de janeiro no país da África Oriental.
Wine, cujo nome verdadeiro é Robert Kyagulanyi, desafia o presidente Museveni, de 76 anos, que está no poder desde 1986.
Eleito deputado em 2017, Wine se tornou porta-voz de uma juventude urbana e muito pobre, que não se reconhece no envelhecido regime de Museveni. Ele conquistou um grande número de seguidores por suas críticas ousadas ao governo, muitas vezes por meio das suas músicas.
Ele foi detido na quarta-feira (18), durante um ato de campanha no leste do país, acusado de violar restrições a reuniões impostas pelo governo para conter a disseminação do novo coronavírus.
Sua prisão desencadeou protestos em massa, e autoridades enviaram militares à capital Kampala e áreas vizinhas para ajudar as forças policiais a dispersar os manifestantes.
Foram usadas munições letais, gás lacrimogêneo e canhões d’água para conter a agitação, e a polícia informou nesta sexta-feira (29) que 37 pessoas morreram e 350 foram detidas.
Wine foi solto sob fiança após comparecer a um tribunal e ser formalmente acusado de desrespeitar as diretrizes contra a Covid-19.
“É Museveni quem deveria estar neste banco dos réus por matar cidadãos inocentes”, afirmou o político no tribunal, ao se referir ao atual presidente.
Museveni não comentou a prisão nem os protestos e continuou sua campanha eleitoral. Segundo a ONG Human Rights Watch, o presidente reuniu grandes multidões sem ser questionado pela polícia ou pelo Exército.
Uganda tem 42 milhões de habitantes e deve realizar eleições presidenciais e parlamentares em 14 de janeiro. Wine, de 38 anos, emerge como uma séria ameaça ao veterano presidente, que pretende estender seu governo para mais de 40 anos.
O opositor já foi preso várias vezes nos últimos anos e ganhou apoio de muitos ugandenses com seus pedidos persistentes para que Museveni se aposentasse após 36 anos no poder.
Repressão da polícia
O porta-voz da polícia, Fred Enanga, disse que os manifestantes detidos estavam envolvidos em atos de violência, inclusive pessoas que não apoiam o partido de Wine — a Plataforma de Unidade Nacional (PUN).
“O que vimos nos últimos dias, que é violência, vandalismo, saque, intimidação e ameaças, são crimes que estavam sendo cometidos [contra] pessoas que não são pró-PUN”, afirmou Enanga. “Isso não é algo que podemos tolerar”.
Ministro da Segurança, general Elly Tumwine, ameaçou os manifestantes. “Este foi um movimento deliberado e pré-planejado para causar o caos”, afirmou Tumwine. “Mas eu quero alertar aqueles que incitam à violência que eles colherão o que plantaram”.
Fonte: G1