Enquanto especialistas em café de todo o mundo valorizam os grãos gourmet da Costa Rica, agricultores do país alertam que se uma escassez de mão de obra estrangeira causada pela pandemia de coronavírus não for resolvida em breve, a matéria-prima de inúmeros “lattes” e “espressos” pode simplesmente estragar.
A perspectiva de uma safra abundante neste ano para o país relativamente pequeno da América Central acabou por se transformar em um panorama incerto, com crescentes temores de que a safra pode não ser colhida pelas mãos que tradicionalmente fazem esse trabalho, especialmente nicaraguenses e panamenhas.
Produtores culpam as restrições a viagens impostas pelo governo para banir visitantes potencialmente infectados do Panamá, vizinho ao sul onde o vírus teve ampla disseminação, e da Nicarágua, ao norte, onde as medidas frouxas de contenção provavelmente causaram um surto muito maior que o divulgado.
Trabalhadores provenientes do Panamá e da Nicarágua costumam representar dois terços da mão de obra utilizada na safra de café da Costa Rica.
“Estamos extremamente preocupados. Dependemos do trabalho estrangeiro para colher nosso café, e não sabemos quando será possível contar com ele”, disse Geovanny Rodriguez, produtor de Santa María de Dota, na região montanhosa de Los Santos, cerca de 64 quilômetros a sul da capital San José.
Os plantios de Los Santos são responsáveis por cerca de metade da safra costarriquenha de café.
O fornecimento de grãos especiais para o mercado gourmet tem uma longa história na Costa Rica, onde está a Hacienda Alsacia, da Starbucks, fazenda privada na qual a maior rede de cafés do mundo promove pesquisas sobre três variedades e práticas agrícolas.
Embora as exportações de café da Costa Rica, de cerca de 1 milhão de sacas de 60 quilos, sejam uma parcela mínima das vendas globais, seus grãos de arábica de alta qualidade são um elemento básico do mercado gourmet.
Isso se soma a outros problemas já enfrentados pelos agricultores, como o coronavírus, que enfraqueceu a demanda global pelo produto, resultando em uma queda nos preços.
Algumas regiões do país iniciam a colheita desta temporada em agosto. O Icafé, instituto nacional do setor, estima que cerca de 74 mil trabalhadores serão necessários durante o ápice da colheita, já na reta final do ano.
“Eu nunca poderia imaginar uma colheita sem as pessoas que vêm de fora do país”, disse o agricultor Edifemo Bravo, apontando para um galho de árvore lotado de cerejas de café em uma área da fazenda onde trabalha.
Bravo, nascido na Nicarágua, trabalha em tempo integral na mesma cooperativa de café costarriquenha há mais de uma década.
Desde março, autoridades do país confirmaram mais de 3.100 casos de coronavírus, mas apenas 15 mortes, um dos índices de contágio mais baixos da América Central, onde a quantidade de infecções continua em rápida ascensão.
Fonte: G1