Nunca houve tanto lixo na Alemanha: em 2017 foram descartados 18,7 milhões de toneladas de embalagens. A enormidade desse volume fica mais evidente dividindo-o entre a população: 226,5 quilos por habitante, em média. Trata-se de um novo recorde, 3% acima ao ano anterior, garantindo ao país um inglório primeiro lugar no ranking europeu do lixo.
Além disso, um exame das estatísticas dos últimos anos mostra que esse incremento não é um fato isolado. Pois, apesar de todas as discussões sobre proteção ambiental e sustentabilidade, a quantidade de embalagens cresceu continuamente na Alemanha, nos últimos anos.
Com uma única exceção: entre 1991 e 1995, a produção desse tipo de resíduo de fato recuou. Nesse período foi introduzido o Grüner Punkt (Ponto Verde), que até hoje indica as de embalagens a serem coletadas e processadas separadamente.
Desde então, existem no país tonéis e sacos “amarelos”, em que as embalagens são depositadas, para a coleta especial. Quem arca com esse sistema de eliminação são os consumidores, pois sobre cada “ponto verde” recai uma taxa – que os produtores pagam, mas naturalmente repassam no preço ao consumidor.
O fato de muito material de acondicionamento tornar as mercadorias mais caras possivelmente explica a redução dos resíduos no começo dos anos 90. Mas a tendência não durou: em 2010 já havia novamente mais embalagens descartadas do que em 1991.
É justo esclarecer que a maior parte desses detritos sequer vem diretamente dos consumidores: 53% são produzidos por empresas, na forma de embalagens usadas no processo de manufatura ou que permanecem com os comerciantes.
Muitos deles preferem que os produtores não entreguem os gêneros diretamente nos estabelecimentos de venda, reunindo-os primeiro em centros de logística, onde são compostas as paletes de artigos para as diferentes lojas. Essas também precisam ser devidamente acondicionadas para transporte, muitas vezes, por exemplo, envolvendo-as totalmente em filme de PVC, o qual, ao chegar na loja, é descartado pelo próprio comerciante.
Crescimento e consumo: os grandes vilões
Mas por que tem que haver quantidades sempre maiores de lixo? Entre outros fatores, o Departamento Federal alemão do Meio Ambiente aponta o bom crescimento econômico dos últimos anos. Como muitos cidadãos estão melhor hoje do que alguns anos atrás, gasta-se mais em consumo. O resultado é que “mais produtos também implicam mais embalagem”.
Há ainda outros dois aspectos: por um lado, a comodidade. O Departamento do Meio Ambiente observou que os pacotes muitas vezes oferecem funções adicionais – como a possibilidade de serem novamente fechados ou acessórios para dosagem – que são desnecessárias ou realizadas com complexidade excessiva, aumentando o consumo de material e possivelmente dificultando a reciclagem.
O outro fator é a mudança de estilo de vida. A tendência atual é de porções menores de alimento ou de comer fora, e ambos geram mais lixo. Além disso, o comércio online floresce: cada vez menos consumidores compram em lojas, encomendando na internet com entrega a domicílio. Para que cheguem intatos, os artigos costumam ser empacotados de forma mais elaborada do que antes.
Na opinião de Maria Krautzberger, presidente do Departamento do Meio Ambiente da Alemanha, a dinâmica vai na direção inteiramente errada: são usadas embalagens demais, o que é nocivo do ponto de vista ambiental e do emprego de matérias primas.
Ela apela à indústria e aos consumidores: “Precisamos evitar detritos, se possível já na fase de produção. Por isso deve-se abrir mão de acondicionamentos desnecessários e com emprego desnecessariamente intensivo de material.”
Muitas vezes, contudo, vê-se o contrário, até mesmo o tubo de pasta de dentes é multiplamente embalado. “Precisamos de muito mais invólucros e recipientes reutilizáveis, não só para água mineral e cerveja”, apela Krautzberger. Pode-se também tomar o café em copos reutilizáveis, e quem traz comida de casa também deveria usar recipientes reaproveitáveis, exemplifica.
Há um pequeno consolo, entretanto: em termos de reciclagem, a Alemanha continua tendo bom desempenho. Cerca de 70% das embalagens são reaproveitadas, e grande parte do resto acaba nas usinas de incineração, gerando assim pelo menos energia. Apenas uma pequena parcela dos invólucros acaba em depósitos sanitários.
Nos próximos anos, a percentagem das embalagens reutilizáveis deverá aumentar ainda mais. Desde 1º de janeiro vigora na Alemanha uma nova lei de embalagens, prescrevendo uma quota de reciclagem de pelo menos 63%, até 2022. As diferentes quotas dos diferentes materiais mostram que a meta é viável: quase 88% do papel e papelão já é atualmente reaproveitado, o vidro tem uma quota comparável, de 85%. As piores cifras cabem ao plástico e a madeira, com taxa de reciclagem abaixo de 50%.
Fonte: G1